O KNCR11, gigante de quase R$ 9,4 bilhões em patrimônio da Kinea, distribuiu R$ 1,11 por cota em dezembro, uma queda de 16% em relação ao mês anterior. A notícia pegou parte dos cotistas de surpresa, mas os números mostram além.
Com mais de 466 mil investidores e uma emissão de R$ 1,36 bilhão recém-concluída, o fundo atravessa um momento de transição. A Selic em 15% ao ano continua turbinando os rendimentos, mas o processo de alocação dos recursos captados criou um descompasso temporário. Para quem tem 1.000 cotas, são R$ 1.110 que entraram na conta dia 11 de dezembro, contra R$ 1.330 no mês anterior.
Por que o dividendo caiu se a Selic não mudou
A pergunta que apareceu em diversos fóruns de investidores tem uma resposta técnica, mas importante de entender. Novembro teve menos dias úteis que outubro, e em um fundo indexado ao CDI isso faz diferença direta no resultado.
Mas há outro fator, a base de cotistas aumentou. Com a conclusão da primeira série da 12ª emissão, o fundo captou R$ 1,36 bilhão que ingressaram no dia 30 de outubro. Mais cotas para dividir o resultado significa, matematicamente, menos por cota, pelo menos até que os recursos sejam integralmente alocados.
A gestão gerou exatamente R$ 1,11 por cota e distribuiu R$ 1,11. A reserva acumulada permanece em R$ 0,14 por cota, um colchão modesto para um fundo desse porte.
A estratégia das compromissadas reversas
Um ponto que diferencia a Kinea de outras gestoras apareceu com clareza neste relatório. No início de novembro, o fundo recomprou R$ 700 milhões em operações compromissadas reversas que haviam sido contratadas para antecipar a alocação da carteira.
Na prática, funciona assim: antes mesmo de receber o dinheiro da emissão, a gestão já havia comprado CRIs usando essas operações como ponte. Quando os recursos entraram, quitaram a dívida. É uma forma de evitar que o caixa fique parado rendendo apenas CDI puro enquanto a equipe estrutura novas operações.
A comparação com outros fundos do mercado é inevitável. Enquanto o KNCR11 movimentou R$ 700 milhões em compromissadas, há fundos com 20% do patrimônio em caixa há meses, alegando cautela. A eficiência operacional da Kinea nesse aspecto é difícil de contestar.
O pipeline de R$ 800 milhões
A gestão informou que tem aproximadamente R$ 800 milhões em operações já em estruturação, com desembolsos previstos para as próximas 8 a 10 semanas. É um volume expressivo que deve normalizar a alocação do fundo.
A única aquisição concluída em novembro foi um CRI de R$ 50 milhões lastreado em um galpão logístico do HSLG11 em Curitiba, locado para o Mercado Livre na modalidade built-to-suit. A taxa de CDI + 1,90% está abaixo da média da carteira (CDI + 2,11%), mas o perfil de risco é conservador, com alienação fiduciária de imóvel em Arujá como garantia adicional.
Composição da carteira e concentração
O fundo mantém 87,5% do patrimônio em CRIs indexados ao CDI, com taxa média de aquisição de CDI + 2,12%. A parcela em inflação é residual, apenas 0,2%. LCIs representam 5,8% e instrumentos de caixa 6,5%.
A diversificação setorial mostra concentração relevante em escritórios (49,7%), seguido por shoppings (18,3%), logístico (9,7%), residencial (8,8%) e residencial pulverizado (7,7%).
Um ponto que merece atenção: a operação Brookfield BR12 aparece em múltiplos CRIs que, somados, representam cerca de 8% da carteira. São operações com a mesma contraparte, o que aumenta a exposição efetiva a um único devedor. O relatório detalha que se trata de financiamento para aquisição de 10 imóveis que pertenciam à BR Properties, com garantias robustas incluindo alienação fiduciária dos imóveis e das cotas de 10 FIIs.
O que diz a comunidade
A comunidade de investidores ficou dividida sobre a queda nos rendimentos. Alguns analistas apontaram que a comunicação da gestão poderia ter sido mais clara, antecipando a redução. Uma queda de R$ 0,22 por cota em um fundo que deveria ter baixa volatilidade de rendimentos gerou questionamentos.
Por outro lado, há quem defenda que o movimento era previsível dado o contexto de emissão e que a Kinea demonstrou agilidade na alocação. A comparação com fundos que mantêm caixa elevado por longos períodos favorece a gestora.
Um ponto de consenso: quem investe no KNCR11 precisa ter consciência de que, quando a Selic começar a cair, os dividendos acompanharão. Alguns analistas projetam início do ciclo de flexibilização monetária no primeiro trimestre de 2026, embora o próprio Banco Central tenha sinalizado necessidade de política contracionista por período prolongado.
Números para acompanhar
O fundo negocia a R$ 105,89, um ágio de 3,7% sobre o valor patrimonial de R$ 102,12. O dividend yield dos últimos 12 meses está em 13,44%, equivalente a aproximadamente 121% do CDI quando considerado o gross-up do imposto de renda.
A liquidez média diária gira em torno de R$ 14,7 milhões, adequada para um fundo desse porte. Em novembro, foram transacionados R$ 290 milhões no total.
A tabela de sensibilidade do relatório mostra que, ao preço atual de mercado, o spread efetivo da carteira fica próximo de CDI + 0,65%. Descontada a taxa de administração de 1% ao ano, o investidor que compra hoje captura um spread líquido negativo. É o preço de entrar em um fundo com histórico de gestão consistente e carteira sem eventos de crédito.
O que ficar de olho
Os próximos relatórios devem mostrar a evolução da alocação dos R$ 800 milhões em pipeline. Se a gestão mantiver o ritmo demonstrado com as compromissadas reversas, a normalização deve ocorrer até fevereiro.
A reunião do Copom de dezembro pode trazer sinalizações sobre o início do ciclo de cortes. Para o cotista do KNCR11, isso significa começar a calibrar expectativas de rendimento para 2026.
A reserva de R$ 0,14 por cota é modesta. Diferentemente do KNIP11, onde a gestão acumula reservas maiores pensando em cenários de inflação mais baixa, o KNCR11 tem distribuído praticamente todo o resultado. É uma escolha que agrada quem prefere dinheiro no bolso, mas deixa menos margem de manobra quando os ventos mudarem.
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