O Hectare CE FII (HCTR11) atravessa mais um capítulo delicado na sua trajetória como fundo de crédito high yield. A aprovação da venda integral dos ativos do HCHG11 para o VVCR11 deve gerar prejuízo de caixa no primeiro semestre de 2026, pressionando ainda mais as distribuições de um fundo que já opera com dividendos reduzidos e 74% da carteira de CRIs em carência de juros.
O que foi aprovado e qual o impacto
Na última assembleia geral extraordinária, foi aprovada a alienação de 100% dos ativos do HCHG11 (Hectare High Grade) para o VVCR11, mediante integralização em cotas. O negócio será fechado a R$ 88,80 por cota, totalizando R$ 106.560.000.
O problema está no preço médio de aquisição. Segundo o relatório gerencial de outubro, o HCTR11 detém 971.783 cotas do HCHG11 com preço médio de R$ 92,25. A conta é simples: vendendo a R$ 88,80 o que custou R$ 92,25, o fundo terá prejuízo de caixa de aproximadamente R$ 3,35 milhões.
É importante distinguir: contabilmente, haverá lucro, já que o HCHG11 está marcado a mercado em torno de R$ 75 a R$ 78. Mas no fluxo de caixa, que é o que determina a distribuição de dividendos, o resultado será negativo.
Quanto isso pesa na distribuição
Para dimensionar o impacto, basta olhar o resultado caixa atual do HCTR11: cerca de R$ 6,8 milhões por mês, equivalentes a R$ 0,31 por cota. Um prejuízo de R$ 3,35 milhões representa praticamente metade de um mês de geração de caixa.
A expectativa é que esse prejuízo seja diluído ao longo do primeiro semestre de 2026, reduzindo as distribuições mensais em algo entre R$ 0,02 e R$ 0,03 por cota. Com o fundo distribuindo atualmente R$ 0,29, os cotistas podem ver dividendos na faixa de R$ 0,26 a R$ 0,27 nos primeiros meses do ano que vem.
Há ainda outro fator: ao receber cotas do VVCR11 na emissão a R$ 10,57, o HCTR11 provavelmente precisará vendê-las no mercado secundário para recompor caixa. Com o VVCR11 negociando abaixo desse valor, novas perdas podem se acumular.
A situação atual da carteira
O cenário já não era confortável. O relatório gerencial de outubro mostra que apenas 15% da carteira de CRIs está em dia. A maior parte, 74%, encontra-se em carência de juros, e 11% está inadimplente.
Em outubro, ocorreram assembleias que estenderam os prazos de waivers das operações EDA, Resort do Lago Park e Resort do Lago IV até setembro de 2026, e dos CRIs Brasil Parques, GPK e GPK II até julho de 2026. A gestora afirma que os ativos reestruturados têm mantido os pagamentos conforme cronograma, mas a dependência de renegociações permanece alta.
A única movimentação positiva do mês foi a liquidação do CRI Golani, que gerou um prêmio de resgate antecipado de R$ 93 mil.
Os números que o cotista precisa conhecer
O HCTR11 fechou outubro com cota a R$ 21,95, enquanto o valor patrimonial por cota está em R$ 104,36. Esse desconto de 79% sobre o patrimônio reflete a desconfiança do mercado quanto à recuperação dos ativos.
O dividend yield anualizado de 17,06% sobre a cota de mercado pode parecer atrativo, mas é preciso contextualizar: a distribuição de R$ 0,29 por cota representa apenas 1,32% ao mês, e a tendência de curto prazo é de pressão adicional.
O patrimônio líquido do fundo soma R$ 2,3 bilhões, com 133.882 cotistas. A liquidez média diária nos últimos 12 meses foi de R$ 1,05 milhão.
O perfil de risco que não pode ser ignorado
O próprio relatório gerencial é transparente: o HCTR11 é um fundo high yield de desenvolvimento, com "menor previsibilidade quanto à periodicidade e ao volume das distribuições de resultado aos investidores no curto prazo". A gestora classifica o produto como voltado a investidores de perfil arrojado.
A carteira está concentrada em multipropriedade (45% dos CRIs), setor hoteleiro (25%) e loteamentos (10%), segmentos que sofreram particularmente nos últimos anos e cuja recuperação depende de condições macroeconômicas favoráveis.
O que observar nos próximos meses
A liquidação do HCHG11 deve se concretizar no início de 2026, após a conclusão da emissão do VVCR11 prevista para dezembro de 2025. A partir daí, o impacto no caixa do HCTR11 começará a aparecer nas distribuições.
Para quem permanece posicionado, vale acompanhar como a gestora administrará as cotas recebidas do VVCR11 e se haverá necessidade de vendas no secundário. Com caixa representando apenas 0,6% do patrimônio, a margem de manobra é estreita.
O cenário de inflação baixa projetado para o primeiro semestre de 2026 adiciona pressão, já que 92% dos CRIs são indexados ao IPCA. Em um fundo que já distribui pouco, cada variável conta.
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